Serviço público é mamata, mas não


Você que acha que ser vidor público é bom? Que é a maior mamata? Que passar num concurso significa ganhar bem e trabalhar pouco? Que servidor público é vadio, que não faz nada e atende mal as pessoas? Lamento informar, mas na maioria dos casos, você está enganado. Estou aqui, humildemente, para lhe esclarecer que as coisas não são bem assim.

Sem aumento ou fundo de garantia


Você sabia que o servidor público de carreira não tem dissídio anual? Pois é. Em muitas carreiras eles só ganham aumento se fizerem greve (e olha lá). Se não, são anos e anos sem um centavo de aumento, nem se quer para cobrir a inflação. Isso acontece principalmente a cargos ligados a órgãos ou entidades ligadas ao puder executivo.

Você sabia que o servidor público também não tem fundo de garantia? Pois é. Aquela graninha que você junta ao longo dos anos para comprar um imóvel ou para sacar na aposentadoria, o servidor público não recebe. Ele até pode ser um salário bom. Mas é só aquilo. E ponto. Sem fundo de garantia. Sem seguro desemprego. Sem nada.

Demissão existe sim – vide lei 8.112


Servidor pode ser demitido, sim. Está na Lei. No caso dos servidores federais (que servem de referência para os demais), quem pisar na bola passa por processo administrativo e vai pra rua. Dá um confere no Diário Oficial da União e vai ver que todo dia tem servidor público sendo exonerado. Demitir um servidor público de carreira é um processo mais demorado e faltam critérios claros para medir a produtividade do servidor. Mas se pisar na bola, desobedecer a lei e isso puder ser provado, acontece.

Além disso, não é fácil conseguir ser servidor público de carreira. Para conseguir uma vaga no servido público tem que fazer prova de concurso, concorrer com milhares de outras pessoas, ser aprovado, ser chamado para escolher o local de lotação. Na maioria das vezes os servidores não tem muita chance (ou sorte) de trabalhar próximo da família ou onde ele gostaria.

Nem sempre ganham bem


Nem todo servidor público ganha bem. Policial, enfermeiro, professor, técnicos em geral… são carreiras que pagam pouco. São também as carreiras mais cobradas pela sociedade: educação, assistência social, saúde, segurança... As vezes esses profissionais, servidores públicos, não tem o mínimo necessário para exercer seu trabalho como deferiam. Imagina como se sente um enfermeiro que não tem gaze para fazer um curativo? Ou o policial que vai subir o morro com um “trêsoitão” na mão, pra encarar o bandido com metralhadora? O professor que precisa comprar material do próprio bolso para dar aula? Todos eles são servidores públicos.

Tudo que não é permitido é proibido


Você pode achar que o servidor é vadio. Alguns de fato são. Mas a maioria é apenas engessada pelo sistema. E muitos se sentem deprimidos ou revoltados com isso, o que acaba refletindo, mesmo sem querer na forma como atendendo o público. Mas pouco podem fazer para mudar ou melhorar o serviço público.

Isso aconetce porque no serviço público, tudo que não é permitido é proibido. Isso é um princípio. Ou seja, as vezes o servidor realmente deseja fazer algo a mais para ajudá-lo, mas não pode. Se ele fizer um milímetro a mais, ou diferente do que está estabelecido pela lei, normas reguladoras ou atribuições do seu cargo, mesmo que não seja algo declaradamente ilegal, corre o risco de ter que responder na justiça por isso. Se ele fizer aquilo que vá além do que a lei lhe exige, ele pode responder civil e criminalmente, dependendo do caso.

Vou dar um exemplo: imagine que você trabalhe no setor de compras de uma escola pública. Por ser uma instituição pública, as compras devem ser feitas por pregão. Há um pregão para aquisição de giz. No pregão está descrito que o tablete de giz deve ter 10 cm de comprimento. Mas a empresa fornecedora entregou um giz de 15 cm de comprimento. Maior e melhor que o descrito empregão.

Você pensa: sem problemas, pois a escola vai pagar o mesmo valor por um produto melhor, mais longo, que vai durar mais. Certo? Errado. Se o pregão está determinado que a escola pode comprar giz de cera de 10 cm de comprimento, o servidor que aceitar um item diferente disso, mesmo que seja obviamente melhor e mais vantajoso para a instituição pública, pode responder a um processo por isso. Sim. É bizarro. Mas é a verdade.

Não pode faltar o trabalho em caso de morte do avô ou neto


Se os avós ou os netos do servidor morrerem, ele não poderá faltar ao trabalho, nem para ir ao velório ou enterro. A lei não permite. Mesmo sendo avós e tendo parentesco direito em primeiro grau. Mesmo que o servidor tenha sido criado pelos avós. Não é permitido.

Ainda, se você ficar doente e precisar se ausentar do trabalho por mais de 200 dias por causa da mesma doença, você será obrigado a se aposentar. Aposentadoria essa, que provavelmente será acompanhada de uma renda ridiculamente abaixa. É na marra. Sem choro, nem vela. Se ficar dente, reze para se curar e poder voltar ao trabalhar em menos de 200 dias.


Humilhação e perseguição são práticas comuns


Imagine como deve ser humilhante trabalhar dentro de uma instituição onde você tem que bater ponto e cumprir jornada de trabalho de 8 horas por dia. Até aí tudo bem, cumprir horário não é o problema. O problema é que você faz tudo certo e cumpre seu horário. Mas seu colega não tem a mesma obrigação. Isso, apenas porque o colega não está na mesma carreira profissional que você. Por questões burocráticas bizarras a humilhação e perseguição corre solta dentro do serviço público.

Uns são obrigados e auditados rotineiramente em questões relacionadas a ponto e presença. Outros não precisam bater ponto ou cumprir horário regular, além de ter direito a dez dias a mais de férias por ano. Humilhante, não? Pois é, isso acontece dentro do serviço público. Duas carreiras, diferentes que dividem o mesmo espaço, tem obrigações e direitos diferentes, mesmo sendo hierarquicamente equivalentes.


Sim, tem servidor que não presta


O sistema é complexo e “burrocrático”. A pessoa que quer ser um servidor no sentido literal da palavra, quer ajudar ao próximo, ser um bom profissional, cumprir com suas obrigações e ser importante para a sociedade certamente, ao longo da carreira, vais e deparar com entraves e burocracia que mais vão atrapalhar, do que ajudar.

Os entraves e burocracias são criados por políticos eleitos, por chefões e comissionados. Há servidores vadios e vagabundos, ou com altos (e injustos) salários. Mas essa não é a regra. A regra é o inocente pagar pelo pecador. Quem está na base da pirâmide é pisoteado e humilhado, achacado e perseguido no serviço público. O vadio de salário graúdo normalmente passa despercebido e nada lhe acontece.

A quem isso é interessante? Aos interesses de quem essa lógica cruel atende? Não sei… mas espero que esse texto lhe ajude a atender que nem todo servidor público é do mal. Muitos trabalham muito e não ganham tanto assim. Poucos ganham muito, não trabalham nada e ainda perseguem os colegas de classes e cargos hierárquicos inferiores. É subliminar e indelével. Mas é a realidade. Humilhação e perseguição: essa é a regra do serviço público para quem está nos patamares mais baixos da pirâmide de poder e dinheiro.



Desculpe o desabafo… e saiba que estou correndo risco de ser percebida e processada por tê-lo escrito.

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